domingo, 12 de dezembro de 2010

Guerra ao tráfico: Dois menores furam bloqueio e são baleados pela polícia no Rio de Janeiro



Dupla teria se recusado a parar após ordem policial nesta manhã. Outro suspeito foi preso na ação e encaminhado para a 22ª DP (Penha). Quatro carros foram incendiados nesta madrugada. Número de mortos já soma 35, segundo a polícia.
Duas pessoas foram baleadas na manhã deste sábado (27) na Fazendinha, comunidade que faz parte do no Conjunto de Favelas do Alemão, na Penha, na Zona Norte do Rio.

 Segundo policiais da 22ª DP (Penha), os dois seriam menores, teriam se recusado a parar após ordem policial e acabaram feridos na Rua Canita. Na ação, um suspeito também foi preso. Ainda de acordo com a polícia, os dois feridos estavam sem documentos e foram encaminhados para o Hospital Getúlio Vargas, também na Penha.
Mortos em operações no Rio já são 35
Subiu de 34 para 35 o número de mortos no Rio de Janeiro em operações coordenadas pela Polícia Militar entre segunda-feira (22) e esta sexta-feira (26). A informação foi divulgada na madrugada deste sábado (27) em nota oficial publicada no site da PM.
Nesta sexta, segundo o balanco da polícia, quatro pessoas foram mortas em confrontos nos morros do Juramento e Gonçalves, e nos bairros de Santo Cristo e Inhaúma. Durante as operações, outros quatro suspeitos foram presos, de acordo com a Polícia Militar.



Nos últimos dias, o Rio de Janeiro vem enfrentando o que hoje chamamos de guerra contra o tráfico.
A tentativa de instalar UPP’s nas favelas do RJ, se tornou prioridade, já que sua funcionalidade visa acabar com o tráfico dentro das comunidades, trazendo punição aos envolvidos e segurança as famílias que residem nessas áreas, bem como a população que não reside nessas localidades, porém sofrem as conseqüências da violência e criminalidade trazida pelas ações do tráfico.
A polícia vem trazendo essa estratégia para a segurança pública, levantando como bandeira o desejo de implementar a paz nas favelas do RJ.
Nesses últimos dias, o foco da polícia foi a Villa Cruzeiro e o Complexo do Alemão, favelas do Rio  que estão entre as mais subordinadas pelo poder do tráfico e dos traficantes.
          Percebemos que cada vez mais podemos acompanhar nas manchetes dos jornais e nas reportagens televisivas, o quanto o tráfico vem crescendo e gerando cada vez mais violência. A quantidade de pessoas envolvidas e o número de óbitos vitimizados por essas ações são de alarmar qualquer um.
         O que gostaríamos de chamar atenção nesse momento é com relação a essa reportagem apresentada. A operação da polícia nesses últimos dias tem revelado a quantidade de jovens envolvidos nessas ações criminosas, e mais ainda o número elevado de menores de idade participantes também dessas ações.
         Com uma pesquisa e olhar empírico sobre as reportagens e acontecimentos recentes, percebemos que entre essas crianças e adolescentes envolvidos nesse mundo de criminalidade, muitos entram no tráfico por “escolha própria”, porém outros são convocados pelos próprios traficantes a entrar.
        E essa “escolha própria”, deixamos sinalizado com as pás, para abrir aqui um espaço para um início de debate a fim de promover um momento de reflexão sobre o fato de essa escolha própria ser real ou não.
       Durante todos os trabalhos que expomos nesse blog, viemos trazer em questão as manifestações e expressões da nova “questão social” e as conseqüências para a população.
       Sabemos que vivemos em um mundo capitalista, onde a prioridade é gerar mais-valia. Poucos são os detentores dos meios de produção, enquanto muitos, ou melhor quase todo o resto da população está fadada a viver com a venda de sua força de trabalho para sobreviver em meio a esse mundo capitalista. É a classe trabalhadora sendo explorada o máximo possível pela classe burguesa, afim de gerar o mais alto índice de mais-valia, mais lucro e conseqüentemente a produção e reprodução da dinâmica capitalista como ordem vigente.
        O tráfico, a criminalidade, a violência são frutos gerados por essa dinâmica de acumulação capitalista, são expressões da nova “questão social”.
Usando como base o Estatuto da Criança e do adolescente – ECA – no Art. 3°, apresenta que: “ A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que testa essa lei, assegurando-se-lhes, por lei ou outros, meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.”
        O fato é, será mesmo que essas crianças e adolescentes que vivem na favela, que lidam com sua condição de pobreza e são cooptadas pelo tráfico, possuem mesmo o acesso a esses direitos previstos pelo estatuto?
       A verdade é que nem sempre conseguem o acesso integral a seus direitos, são vítimas também da “questão social”, e a elas cabem as políticas sociais públicas, que visam minimizar os efeitos trazidos pelo modo de produção capitalista.
       É certo admitir que muitas política sociais aplicadas a essa população trazem determinado acesso e oportunidade, porém no fundo acabam funcionando como mero paliativo, já que só solucionam alguns problemas momentaneamente, mas  não trarão condições para que essas pessoas consigam mudar de vida, não permitirão que elas deixem de ser mão-de-obra explorada e passam a ser detentores dos meios de produção.
Devemos refletir:
“As políticas sociais devem ser vistas de forma contraditória, pois realizam não só uma valorização do capital, mas interferem diretamente na valorização e na validação da força de trabalho, como mercadoria especial, produtora de mais-valia e como sujeito de direitos no pacto da cidadania democrática.
“A população-alvo das políticas sociais não são os indivíduos isolados, mas a força de trabalho atual ou potencial, segundo a correlação de forças sociais e o desenvolvimento do estado democrático de direito.”
(Faleiros, Vicente de Paula, 1941 – A política social do estado capitalista – 8 ed. Ver. – São Paulo, Cortez, 2000.)


        Inúmeras são as políticas públicas e projetos governamentais e não governamentais que possuem a finalidade de mostrar às crianças e adolescentes pobres que residem em área de comunidade, e que possuem contato com tráfico, que elas podem seguir outros caminhos que destoam da marginalização. Sejam eles com esportes, cultural, ou até mesmo rendas que incentivem a participação escolar.
        Mas será que a existência dessas políticas são tão atraentes a esses mesmos jovens mais do que a vida criminal?
        Não podemos deixar de pensar no que o tráfico propicia aos mesmos. E aqui não é dizer apenas a respeita do que precisam de básico para a sobrevivência, como por exemplo a alimentação.
       Vai além até mesmo da possibilidade de obter bens materiais. (o que sabemos que para os jovens o fator “ter algo” é bastante valorizado. O poder vestir algo de marca, algum tênis importado, celulares da moda, entre outros)
       Aliás cabe aqui um outro parênteses, em um mundo capitalista como o de hoje, que segue um caráter neoliberal, onde vemos cada vez mais o que é chamado de obsolescência programada, onde aos objetos perdem seu valor rapidamente e já surgem novos outros mais modernizados para repor no lugar. Gerando assim uma dinâmica muito maior no consumo, no ter, o que por sua vez é o que impulsiona o modo de produção capitalista.
       Se essa dinâmica contagia a adultos, imagine então aos jovens que já nasceram nessa geração.
Voltando ao foco, o dinheiro recebido pelos envolvidos no tráfico vai além do básico para a alimentação, da possibilidade de acesso ao consumo, traz também consigo o sentimento do Poder.
       Uma criança ou adolescente envolvido no tráfico possui essa sensação de poder, do ser respeitado naquele território (mesmo que esse respeito seja imposto por ameaça e violência).
       Um espaço onde ganham uma visibilidade e um poder que não enxergam ter em nenhum outro meio, em nenhuma outra oportunidade.
Além de uma série de outras questões que acabam impulsionando-os a fazer parte desse meio.
     Questões essas que não são respondidas ou respaldadas quando se aplica as políticas sociais aos mesmos.
     É preciso logicamente, fazer um estudo mais aprofundado sobre essas hipóteses, sobre esses aspectos, voltamos a dizer que aqui estamos trabalhando com olhares empíricos.
Porém podemos propor ao menos algumas reflexões. Fomentar o início de um debate que se encontra longe de terminar. Na verdade a intenção é mais propor questionamentos e proposições do que propriamente respostas.
Será mesmo que esse jovens escolhem entrar no tráfico simplesmente pelo querer? Ou será que os fatores e acontecimentos de suas vidas os impulsionam a buscas o tráfico como única opção?
       Estamos longe de retirar as responsabilidades dos menos pelas ações criminais cometidas, bem como não defendemos aqui o levantamento de uma bandeira referente a como devem ser punidos ou se devem ser punidos.
       Buscamos um espaço de pensar se pode haver novas maneiras de chegar a essas crianças e adolescentes, a fim de que os mesmos se sintam impulsionados a realmente não buscarem o caminho da criminalização como alternativa, e da subsídio aos mesmos para que possam realmente ampliar seu campo de visão para novas possibilidades e escolhas.
Fica o questionamento.


Bibliografia:

Lei n° 8069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente
Faleiros, Vicente de Paula, 1941 -  A política social do estado capitalista – 8 ed. Ver. – São Paulo, Cortez, 2000.
           

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